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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Diário de uma internação - Atualizado até o relato do dia 24/01

Vivaaa!!! Com internet aqui!
Nem acredito que hoje o modem do Rafa Gui funcionou. Ontem não dava sinal!!! Rafa, obrigada, viu?
Olha, tenho escrito tuuuudo o que tenho vivido desde quarta-noite, quando a dor começou a apertar e sobre a internação que se seguiu ( e está duraaaaando...). Mas já tá tão grande, que ninguém terá paciência de ler esse meu "diário". De qualquer forma, vou começar a postá-lo. Pelo menos fica o registro nao apenas da turbulência, mas, principalmente do cuidado e intervenção divinos. Vamos por partes:

Quarta-feira, 19/01/2011, antes de dormir.

- A dor abdominal que venho sentindo desde sábado está ficando mais forte. Será mesmo a volta da minha menstruação, depois de todo esse tempo? Porque ela não desce de uma vez por todas? Mas e aquele pequeno sangramento da segunda-feira? Ficará só naquilo? E essa cólica??? Serão gases? Aiaiai... Vou tentar dormir!

Quinta-feira, 20/01/2011, madrugadinha (tipo 5 e pouco da manhã) e o decorrer do dia

- Ai! Ai! Ai! Ai!
Fui acordada pela dor. E que dor. André, sonolento, dizia:
- vai ao banheiro que alivia!
Ele não tinha idéia da intensidade da minha dor. Desesperada, eu só repetia:
- Ai! Ai! Ai! Ai!
E ele, lá do quarto:
- solta sem medo! Libera os gases!!!
Eu estava molhada pela excessiva transpiração, tamanha dor, que só piorava. Comecei a chorar. A gritar. A gemer. Não achava posição. Doía demais. Parecia partir da barriga para cima, para as costas, para baixo... Raios de dores se estendiam por todos os lados.
- Ai! Ai! Ai! Ai!
Eu não tinha dúvidas, teria que parar num hospital, mas me dava calafrios pensar no atendimento da UNIMED Betim num quadro como o que eu me encontrava. Temia receber analgésicos no soro, mascarar a dor e ser mandada de volta para casa.
- Ai! Ai! Ai! Ai!
Algo não estava bem! Aproximava-se de 06 da manhã e eu já não sabia mais o que fazer! Não adiantava comunicar minha mãe (se nessas horas se quer mãe por perto, muito mais quando se tem mãe-médica), pois ela estava prestes a deixar seu plantão lá no Hospital Julia Kubitscheck, Barreiro, para assumir o posto médico de Betim. 06h30 e nada de Téo e André acordarem. Trôpega, me troquei. Preparei a mamadeira do Téo. Peguei a carteirinha da Unimed e demais documentos. Coloquei na bolsa uma blusa e uma calcinha - sabe-se lá o que pode acontecer... Chamei André que se assustou com meu estado.
- Ai! Ai! Ai! Ai! Preciso ir para o hospital. Não suporto mais. Ô Deus, tem misericórdia de mim! Socorro Jesus...
Me lembro de frases parecidas saindo dos meus lábios em meio aos gemidos. Não riam. A dor era desesperadora. Tomei um buscopan enquanto André se trocava e preparava as coisas do Téo. E o baixinho, nada de acordar. Com a bolsa do Téo pendurada no ombro, André o arrancou cuidadosamente do berço quando ainda dormia e, de pijaminha, olhinhos remelados, fralda cheia de xixi e mamadeira na boca, o pobrezinho foi deixado na escolinha às 7 em ponto. Horário em que abre. Nos dirigimos à BH, pois apesar de estar chorando e gemendo, eu o pedia que me levasse ao Hospital Felício Rocho (me lembrava do meu pai e da Desiré, minha chefe, dizendo que “fugiam” da UNIMED BETIM sempre que podiam). Meu Amor, muito embora cuidadoso e dedicado, não emitiu uma única palavra de Betim a BH. Acho que estava tenso e preocupado com meus gemidos e choro e reagia na defensiva do silêncio.
Chegamos e, na triagem, a moça disse:
- se a causa for ginecológica, não teremos como atender, pois o hospital não tem mais a especialização de ginecologia/obstetrícia. Querem procurar outro hospital?
 Isso não poderia estar acontecendo comigo. Só Deus sabe como sofri para conseguir chegar ali, vindo de Betim! Eu disse, enquanto as lágrimas rolavam na minha face:
- que primeiro, moça, tirem a minha dor. Não posso nem raciocinar com tanta dor!  
Uma fita laranjada, que representa URGÊNCIA, foi colocada no meu braço e numa cadeira de rodas me levaram para o consultório. Dr. Paulo, cirurgião, apalpou o local da dor. Cogitou tudo: de cálculo renal a apendicite. E pediu vários exames. Após a coleta do material para os exames, fui para a sala de medicação. Passava das nove da manhã quando, finalmente, me colocaram no soro com buscopan e dipirona. Mas querem saber? Aquela medicação não fazia cócegas na dor que eu sentia. Desesperada, chorando, tentava agüentar firme até que a enfermeira veio e me disse:
- tem certeza de que a dor não está passando?
- É óbvio que tenho.  Respondi.
Ela continuou:
- É porque o médico deixou prescrita uma outra medicação, muito forte, somente para o caso de você não responder ao buscopan.
- Então pode aplicar de uma vez, pelo amor de Deus, seja lá o que for!
 E me deram a tal injeção. À medida que o remédio ia entrando, algo esquisito ia acontecendo.
- Amor, acho que vou ter reação. Tá tudo queimando!
- Môooço! – Eu disse ao enfermeiro. Tá queimando tudo. Minha vista embaralhou e minha língua tá esquisita. Tô parecendo anestesiada!
- É assim mesmo. Ele respondeu. Você vai ficar sonolenta.  
Pediram para o André sair da sala e permanecer na Espera, e nem deu tempo de eu lhe contar que a dor estava desaparecendo, como num passe de mágica. Fechei os olhos; estava um pouco tonta. Devo ter adormecido por uns cinco minutos. Abri os olhos sem sentir absolutamente nada de dor. Não resisti. Chamei o enfermeiro e perguntei:
- Qual o nome desse remédio milagroso?
- MORFINA. Ele respondeu.
Entendi a dependência do Michael Jackson e agradeci a lei que proíbe a sua venda em farmácias, senão seríamos muitos, os viciados naquilo!
A dor foi e não voltou mais.
Me disseram que os exames ficariam prontos em até duas horas, mas o B.HCG somente em cinco horas. Pasmem: faltou o reagente para a realização do B.HCG. Se o resultado deste já é demorado, a providência do reagente o tardaria ainda mais. Pelos meus cálculos, até as duas da tarde estaria com todos os resultados em mãos. Nesse ínterim, além de manterem a minha dieta totalmente suspensa (havia comido pela última vez na noite do dia anterior) e no soro, eu ainda faria, a qualquer momento, a ultrassonografia. As tentativas de avisarmos meu pai e os pais do André se frustraram, pois nunca atendiam. À minha mãe já tínhamos avisado. À Daniela Amoglia também, pois me ligou tão logo cheguei no Felício Rocho. Michelle foi avisada pela Daniela e entrou em contato comigo. Caso eu não fosse liberada para estar em Betim até as seis da tarde, precisaria que ela buscasse o Téo na escolinha e somente mais tarde o levasse para a mamãe, se até lá eu continuasse impossibilitada, já que às seis da tarde provavelmente mamãe ainda estivesse atendendo. A minha ida para o setor de ultrassom foi um longo passeio de cadeira de rodas por inúmeros corredores daquele hospital gelado. Durante o exame, nada de localizar cálculos renais, pedras na vesícula ou apendicite. Gravidez também parecia não existir. Notou-se apenas a presença de um certo líquido no interior do meu útero. Estaria infectado? Alguma relação com o aborto sofrido há pouco mais de um mês? Bem, a combinação desse exame com o resultado do B.HCG seria determinante para o diagnóstico. O B.HCG veio alto, mais de 400 mUI/ml. Acusando uma gravidez que parecia inexistente. Infecção? Mas os hemogramas não a acusaram...
O Felício Rocho decidiu me transferir para um hospital especializado e fiquei aguardando vaga e torcendo para a conseguirem na maternidade Otaviano Neves, onde minha médica, Dra. Yula, atende. Mas a vaga foi conseguida pela auditora da UNIMED no HDMU (Hospital Dia e Maternidade UNIMED) e, de ambulância, quase às sete da noite, fui transferida para essa unidade da UNIMED, no Grajaú – BH.
Na maternidade, estava uma loucura! Nunca havia visto tanta “barriguda” junto. E vez por outra, ressoava chorinhos de recém-nascidos. Meu coração apertava. Se fechasse os olhos, chegava a escutar e visualizar semelhante choro forte por trás da boca gigantesca daquele garotão vermelhinho de dedos compridos que acabava de nascer. Viajei no tempo até o hospital Vila da Serra, naquela inesquecível tarde de 09/12/2009.
Ganhei uma nova pulseira. Dessa vez no braço esquerdo e de cor amarela. Segundo a recepcionista, significava urgência.
O médico plantonista, Dr. Marco Antônio teve boa vontade em me atender imediatamente, mas ao folhear os papéis encaminhados pelo Hospital Felício Rocho e trazidos pelo técnico de enfermagem da ambulância, constatou-se que o ultrassom não viera. Sem ultrassom, nada feito! Viviane, a funcionária do plantão iniciou sua luta na tentativa de obter um fax que fosse do referido exame realizado no Felício Rocho, mas o máximo que conseguiu foi o relatório do laudo lido por telefone. Fiquei deitadinha na espera, com a dieta suspensa (completava-se 24 horas desde a minha última refeição), quando o Dr. Marco Antônio conseguiu, finalmente, desvencilhar-se das demais emergências para me dispensar atendimento.
Passava das dez da noite. Ele não gostou nada do relato evasivo colhido pelo telefone e decidiu pela minha internação. Cogitou uma gravidez ectópica. Os exames seriam repetidos aqui mesmo, na própria UNIMED.
Papai, ainda com os telefones fora de área, e sem saber bulhufas do que está acontecendo.
O médico autorizou a quebra da minha dieta e André comprou uns pãezinhos de cebola e um suco de caixinha. Foi o que conseguiu àquela hora da noite. Com 24 horas sem nada no estômago (nem água é permitido) me pareceram manjar dos deuses. Devorei-os e tive minha dieta, em seguida, suspensa outra vez. Quando a papelada da internação ficou liberada, fomos para o apartamento 503. Hospital novo e apartamento bonitinho: banheirão, lavabo externo com espelho, mesinha, cadeira, frigobar, cama com controle remoto, TV a cabo, ar condicionado com controle no quarto, armário de duas portas, criado mudo, sofá-cama, telefone, mesa móvel para refeições na cama.
O cansaço era tanto que simplesmente apagamos os dois, sem banho nem nada!

Sexta-feira, 21/01/2011, amanhecendo no HDMU

André se levantou pouco mais de 6 da manhã. Iria a Betim buscar algumas utilidades pessoais, levar o Teozinho na escola e etc. Mal saiu e já senti sua falta. Me ligaria assim que chegasse a nossa casa para eu lhe dizer tudo o que eu gostaria que ele trouxesse: escova de dente, creme dental, sabonete, escova de cabelo, calcinhas, shampoo, etc. Tão logo saiu, voltei a adormecer. Ele ligou rapidinho. Era por volta de sete da manhã e já tinha chegado. Ia arrumar as coisas de escola do Téo e também algumas outras para deixar na mamãe e queria orientação. Pretendia ainda buscar Tetéo e levá-lo à Miudinhos. Me ligaria outra vez, então deixei para fazer meus pedidos depois.
Me levantava para tomar banho, quando a enfermeira apareceu para me levar para a ultrassonografia. Pedi para tomar banho primeiro, mas ela disse que não dava tempo. Contei que estava a mais de 36 horas sem banho e a convenci a uma ducha rápida. Saí sem poder sequer ligar para o André. E lá demorou. Demorou bem mais do que eu achava que demoraria. Fui levada de camisola hospitalar e na cadeira de rodas. O cômico é que a clínica de ultrassom fica no anexo e temos que passar, nesses trajes e nessa situação, pela rua. Estranho para mim; acho que os transeuntes locais já estão acostumados. Fui em companhia de uma gestante de oito meses, cujo líquido está baixando assustadoramente. Dependendo do resultado do ultrassom de hoje, ela terá que ser imediatamente encaminhada à cesária. Ela foi atendida primeiro e eu, em seguida.
Mal voltei para o quarto trazida por um enfermeiro e o André também chegou. Não deu para eu fazer meus pedidos, mas ele trouxe absolutamente tudo o que eu pediria e um pouco mais.
Não é apaixonante?
Ainda fez um vídeo com a ida do Téo para a escolinha em seu celular e trouxe para eu me deliciar com a gostosura do nosso filho.
O dia passou tranqüilo e tenso ao mesmo tempo, mas também, cheio de novidades: o ultrassom acusou novamente o liquido em sua cavidade, com características de infecção. O Beta HCG subiu de 400 para 600. Passei o dia sendo medicada com analgésico no soro. A dieta continua suspensa e surgiu uma nova suspeita: possível mola hidatiforme, que deverá ser retirada imediatamente e enviada para anátomo patológico. Essa extração será feita ainda hoje, na mesma curetagem.
No meio da tarde recebi visitas: Michelle, Dirce e Isaque.
Eu soube, pela Michelle, que Pr. Gilson teria localizado o papai, que falou com Mardeline, que ligou para a Lelé, que ligou para a Michelle à busca de informações. É que nossos celulares não funcionam bem aqui no hospital, onde o sinal é muito ruim. Consegui falar com papai e fiquei mais aliviada.
A única coisa que entristecia meu coração é que à noite eu desceria para o bloco cirúrgico sem a presença da minha mãe. Além do Téo dormir lá, ela tinha atendimento agendado para aquela noite e, ainda, estava estourada de cansaço, sem condições de dirigir a noite para BH. Entendi, mas confesso: queria tanto tanto tanto que ela pudesse estar e me acompanhar...
Bem, Michelle saiu às pressas mais de cinco da tarde, pois teria que buscar o Teozinho na Escola às 18h e ficaria com ele até mais a noitinha, quando o levaria para dormir na mamãe.
Mamãe ligou e orou por mim.
As sete me levaram para o bloco cirúrgico. Antes, meu amor também orou comigo. Desci na cadeira de rodas e, antes de entrar no bloco, André e eu nos abraçamos e lá fui eu... temendo, também, a sofrida anestesia peridural.
Entrei e vi dezenas de parturientes nas “baias” de observação pós-parto, monitoradas por aparelhos e enfermeiros. A médica se aproximou de mim e disse que eu aguardasse dez minutinhos porque estavam em plena troca de plantão dos técnicos e que “o bicho tinha pegado” todo o dia! Insisti para que me permitisse esperar lá fora, ao lado do meu marido, e ela acabou autorizando. Imaginem com que cara sapeca voltei para perto do André. Esses dez minutos duraram cerca de uma hora.
Ali, no bloco cirúrgico, as emergências não davam trégua: era parto chegando um atrás do outro!
Passava das oito quando me buscaram para a sala de cirurgia. Nova despedida entre eu e André. Sala 1. Um doce de enfermeira, a técnica de enfermagem que me preparou. Tudo pronto: toquinha na cabeça, deitada na maca, soro caindo na veia, um dedo no aparelho, um braço no medidor de pressão, uns trecos parecendo uns botões metálicos colados no meu peito e tudo ligado no visor que monitora coração, pressão, temperatura e etc. Comecei a cantar, baixo porém audível, a canção do koinonya em que Deus nos diz: “deixa meu rio passar, deixa meu rio limpar, o que não podes fazer Eu farei... Deixa meu rio passar...” Na hora H, a enfermeira entra e me diz com um sorrisinho sem graça:
- uma gestante que entrou em parto normal teve sérias complicações e vai para a cesária. Os médicos se uniram para atendê-la. Sua cirurgia tardará mais uns quarenta minutos...
- Por favor! Pedi – Deixa eu voltar para o corredor do bloco e esperar ao lado do meu marido?
-Não posso... Você já está preparada para, a qualquer momento, ser atendida. Tem que permanecer na mesa de cirurgia. Respondeu com tom manso e compadecido. Eu sabia que faltava pouco para convencê-la e insisti um pouco mais. SUCESSO! Me desvencilhei de toda aquela parafernália que me prendia ali e saí, de toquinha mesmo, para reencontrar-me com André, que não entendia mais nada. Expliquei e ficamos sentados juntinhos na espera que durou, no mínimo, uma hora e meia. Meu jejum total completava 24 horas, lembrando que nas ultimas quarenta e oito horas, só me alimentei com o lanchinho que o André conseguira  na noite anterior. Se estava em pé, era graças ao soro glicosado na veia durante todo esse tempo.
Finalmente não tive como fugir. Voltei para a tal mesa, mas tive duas notícias animadoras: a BOA era que a anestesia não era a peridural. Eu seria sedada pelo próprio acesso do soro, já ligado em minha veia. A EXCELENTE era que passava das dez quando fui avisada que tardaria uns dez minutinhos, pois os médicos aproveitaram para jantarem um pouquinho. Foi nesse momento que meus olhinhos sonolentos vislumbraram aquele horroroso macacão azul que os médicos usam, com aquela terrível touquinha na cabeça se aproximando de mim. Era a doutora... MARLI. Mããããããe??? Explodi de felicidade!!!  Solucionara seus atendimentos, conseguira deixar o Téo em casa, dormindo com a Rafaela (babá), conseguira o Agnaldo para ser seu motorista e viera ver como eu havia me saído na cirurgia... que ainda não tinha ocorrido! Segurei forte na sua mão e respirei fundo de alegria, alívio e confiança. No mesmo instante os Drs. Sheila e Jorge chegaram. Conversaram comigo. Me explicaram a gravidade do tratamento da mola e o procedimento da curetagem. Mal acabaram de falar e eu já estava apagada. Contentemente sedada, acordando apenas no quarto do hospital, na manhã do dia seguinte.


22/01/2011, manhã pós-cirúrgica - despertando no HDMU

Bom dia!!!
Ainda meio sedada...
Não me lembro de nada que ocorreu desde que me deitaram na mesa de cirurgia ontem à noite e me explicaram tudo que iria acontecer. Minha mãezinha estava junto. De repente... tudo escureceu e não sei de absolutamente nada mais que se passou desde então!

06h30 – Uma enfermeira me entregou um comprimido num copo de cafezinho e um pouco de água num copinho maior. Ainda dopada fui tomando e voltando a dormir. Nem perguntei o que era! (se perguntei, não me lembro!).
7h32 – O telefone do apartamento tocou. Era meu irmão Daniel. Atendi e ele foi logo brincando: “ué, Suzana... entrou na faca?”. Conversamos um tempinho sobre o ocorrido. Eu ainda meio “grogue” da anestesia, parecia despertar aos poucos. Nem consegui corrigí-lo: faca não, cureta! Rsrs... Ele estava na Rodoviária de Vitória esperando a Daniela Amoglia chegar, para levá-la para a casa dele em Vila Velha. Estimou melhoras.
7h49 – Baixei minha cama e me levantei para ir ao banheiro. André acordou e, percebendo que eu me encontrava meio tonta da anestesia, me acompanhou. Comentou que dormira faminto (só com o almoço do dia anterior) e que quase comera meu lanchinho de ontem a noite, já que não voltei da sedação. Olhei a bandeja e tinha dois tipos de sucos, bolachas, gelatinas e algo mais. Eu disse a ele que pudesse comer, pois logo trariam meu café da manhã. Enquanto ele me acompanhava na ida ao banheiro, a mocinha entrou com a bandeja do café e levou a outra bandeja! Lá se foi o lanchinho do André. Desejei dividir meu café com ele, mas ele insistiu que a porção era balanceada para minha recuperação e que eu deveria comer tudinho, pois estava em jejum há mais de 34 horas. Achei tudo meio exagerado, mas comi tudo!
7h55 – Eu estava fazendo xixi e pondo muito sangue (resultado da cirurgia), quando dei falta de toalhas no banheiro e eu queria muito tomar banho. Chamei o André, que atendia a Mardeline no telefone, e pedi que providenciasse toalhas limpas, mas nesse ínterim entrou o médico do plantão do dia para me reavaliar. Deixei o banho pra depois e voltei para a cama. Ele se apresentou e falou um pouco do que leu no prontuário sobre o procedimento de ontem. Disse que tudo apontava para uma alta no dia de hoje, já que nada foi encontrado e a curetagem havia corrido bem. Mediu a minha temperatura e disse que eu estava febril. Que seria medicada e que repetiria alguns exames para sair tranquila. Tirou o curativo do braço esquerdo e me senti sendo depilada na região: uhun!
8h17 – Dr. Jorge, o médico que fez a cirurgia juntamente com a Dra. Sandra, veio falar comigo. Comentou sobre o procedimento. Disse que não encontraram a tal “mola”. Que o útero estava cheio de secreção infectada e que não perceberam nada dessa “nova gravidez” apontada no Beta HCG (a não ser que já houvesse ali um novo aborto). Que o B.HCG não corresponde com o ultrassom que, por sua vez, não corresponde com o que, de fato, foi constatado na cirurgia. Minha mãe atribui à intervenção Divina, pois a “mola hidatiforme” era a sua grande preocupação. Ela aparece no ultrassom, mas não é localizada no útero, que foi todo limpo (limpo ou limpado?) na cirurgia. Questionei de novo sobre a possibilidade de haver uma gravidez em estágio bem inicial, responsável pelos valores do B.HCG, mas sem tempo de existência suficiente para ser visualizado no ultrassom. Ele disse que, neste caso, realmente estaria bem no iniciozinho, mas “já foi” na limpeza do útero e na retirada de todo aquele material infectado. Me deu uma folhinha já com um horário agendado com ele no dia 04/02, para recebimento do laudo do material colhido, conclusão do diagnóstico e orientações para o tratamento. Disse que mandará repetir exames de sangue, inclusive o B.HCG, que agora deverá apresentar valores baixinhos, e que provavelmente hoje ainda, terei alta hospitalar.
8h43 – A enfermeira veio e me medicou. Disse ser remédio para a dor. Olhou a temperatura.
9h15 – Estella ligou. Enquanto eu falava com ela, a enfermeira retirava o meu soro (Ufa! 44 horas andando com aquilo! Ainda era o do Felício Rocho. Só trocavam o saquinho!). Depois aferiu a pressão e finalmente espetou uma nova veia (da mão esquerda. Como doeu!) para novos exames, inclusive Beta HCG.
9h38 – A enfermeira entrou trazendo toalha limpa para meu banho e roupagem limpa para a cama. Pedi outra camisola. A minha estava suja de sangue.
9h40 – Banho!!! Ah... Que delícia! O primeiro banho de verdade em mais de 60 horas. André atendeu o telefone durante meu banho. Disse que era a Lelé.
9h55 – André se preparou para sair e tomar um cafezinho. Mamãe ligou (tinha ligado várias vezes sem conseguir falar comigo). Conversamos meia hora sobre a cirurgia de ontem. Ela me contou detalhes do que presenciou! Disse que curetaram o liquido infectado com pedaços esquisitos, bolhas, sei lá... Mas que ficou tudo limpinho e nada do que tiraram parecia ter aspecto da mola hidatiforme, mas mandaram para análise (anátomo patológico). Falei com Tetéo ao telefone. Ele me contou várias coisas! Dentre elas, disse: “áaa... Lô... iiii... tá... é?” . Que saudade desse baixinho!
10h48 – André retornou do café. Me deu um beijinho e perguntou se senti saudade. “Claro!” respondi. Como eu estava digitando esse texto, e digitando respondi, ele resmungou que era mentira – que eu não tinha sentido a sua falta! (como se isso fosse possível!).
11h06 – Michelle ligou aqui no apartamento. Conversamos bastante.
12h02 – Debrinha ligou. Aquela doçurinha de sempre. Cheia de fé como lhe é característica e, agora, também de conhecimentos científicos na área. Uma medicazinha fofa!!!
12h07- Ai, ai... Tanta expectativa a cada vez que essa porta se abre! Era a moça trazendo o meu almoço e deixando-o na mesa, já que eu conversava com Debrinha ao telefone.
12h09 – Almocei arroz, feijão, farofa de ovo e cenoura, carninha cozida, laranja picadinha de sobremesa e suco de limão. Tudo muito sem graça e com pouco tempero. Mas após o almoço, tchan, tchan, tchan: a quebra da dieta hospitalar (segredo, viu?). Comi o pedaço de torta alemã que meu amor trouxe escondido para mim do Restaurante que ele foi ontem. Tava guardadinha no frigobar do nosso quarto! Hmmm... que delícia!!!

 
13h00 – “Não entristeças o teu coração, confia em Deus e espera; há tempo para o inverno e o verão, outono e a primavera. Em breve as flores irão se abrir e então cantarás, repetirás a sorrir, EM CRISTO TRISTEZAS JAMAIS. A minha vida a Jesus Cristo entreguei e nEle confiei toda a minha tribulação; sim em Deus devemos sempre esperar e nEle confiar que Ele dará paz e consolação.” Com aquele soprano único e vibrato inconfundível, acabo de desligar o melodioso telefonema da tia Marlene, quando ela encerrou sua ligação cantando a música acima e ministrando na minha vida. E como me abençoou!!!
13h48 – Edianna ligou no celular do André para ter notícias minhas e saber se melhorei. Tem ligado nos últimos três dias. André me passou o telefone e conversamos. Ela disse que o calor está insuportável. Realmente não tenho idéia do clima lá fora, já que aqui é climatizado e fresco o tempo inteiro!
14h05 Terminou o filme que estávamos assistindo. André retornou uma ligação que seu celular teria recebido. Era Aninha. Falei com ela ao telefone. A vozinha dela demonstrava carinho e preocupação comigo. Um amor! Mandei um beijo para o Lucas.
14h12 – A faxineira entrou para fazer a limpeza do quarto. Eu ainda estava no telefone com Aninha e André usava o toilette. Abriu portas e janelas. São 14h22 e ela continua limpando por aqui. Está no banheiro agora.
14h24 – a Enfermeira entrou. Me deu buscopan. Aferiu a pressão: 9 por 6. Mediu a temperatura: 35,9. Arrancou o curativo da mão esquerda. André sondou se tinha notícias do resultado do meu exame, mas ela disse que não.
15h06 – Tava cochilando. Resultado do buscopan? Abri os olhos e não vi o André. Terá, finalmente saído para almoçar? Mal pensei e ele adentrou o quarto com águas nas mãos. Tinha ido encher as garrafinhas e repor no frigobar. André tem estado colado em mim desde a madrugada de quarta para quinta quando comecei a passar mal. Um amor! O melhor, mais carinhoso, cuidadoso e amoroso marido do mundo! Não vê-lo já me aperta o coração. Acho que estou ficando muito mal acostumada!!!
15h10 – Me beijou, escureceu um pouco o quarto e saiu para almoçar. Voltei a cochilar.
15h12 – A enfermeira entrou. Minha alta??? Não!!! Era o café da tarde. Colocou a bandeja e saiu. Na TV viva passa CHICO ANISIO.
15h20 – Tomei o café todinho. Comi os dois pães doces, tomei o café com leite e devorei as 4 bolachas. Continuo achando exagerada a quantidade... Não será mesmo para dois? Diz André que o acompanhante paga a refeição à parte. Bem, não questionei e comi mesmo! Vai que eles me põem de jejum de novo... rsrs!
15h50 – André chegou. Conversamos um pouquinho e adormeci. Dormi até as seis da tarde. Percebi, ao longe, o telefone tocando várias vezes nesse período: André se recordou de alguns: minha mãe, Daniela, Cleber Sorriso, meu irmão Eliseu... e teve mais gente. Tenho a sensação de ter ouvido o telefone tocar no mínimo umas seis vezes enquanto dormia!
18h05 – Cada vez que abrem a porta, meu coração dispara: dessa vez é minha “alta”! Mas nada. Sempre é comida ou remédio. Dessa vez era o meu jantar: arroz, macarrão alho e óleo, frango grelhado, salada, suco de tangerina e flan de chocolate. No arroz sem tempero e na salada, nem toquei. Já basta o esforço que fiz no almoço para comer tudo. Misturei o feijão no macarrão e comi com o frango. Sabe que tava bem gostosinho? André se encarregou de comer o arroz, a salada, o flan e matar o suco. Queria tanto que fosse o médico dando logo a minha alta...
18h29 – Nova surpresa: de tarde comentei com o André que queria picolé. Adivinha o que ele trouxe da rua quando saiu para almoçar e “mocou” no frigobar? Chicabon! Me deu agora, após meu jantar. Chupei meu picolé com aquela vontade. Escondido, fica melhor ainda! Depois, ele se encarregou de consumir com o papel e o palito! Rsrs...
19h12 – O médico do plantão entrou. Se apresentou. Disse que apesar de terem zerado meu útero na raspagem de ontem o Beta HCG continua subindo: na quinta deu mais de 400, na sexta mais de 600 e agora, após a curetagem, pasmem, mais de 800! Não conseguem descobrir a causa. Voltam a cogitar tudo – inclusive a mola hidatiforme outra vez! Ele disse que vão olhar tudo de novo. Até o pulmão (?). Não entendi o que pode ter a ver. Disse também que farei o terceiro ultrassom! E, claro, a pior das notícias: NADA DE ALTA!
19h20 – André ligou para Estella. Relatou o ocorrido. Pediu uma força nos próximos dias. Precisarão revezar entre me acompanhar, cuidar do Téo e ficar com Ana e Lucas. Tentei falar com meu irmão Eliseu. Liguei para Michelle. Atenderam num salão de beleza e disseram que o telefone havia sido esquecido lá. Liguei no outro número dela. Ela estava louca à procura do celular da TIM. Dei as notícias todas. Na TV, Márcia Pinheiro bate papo com a doce Ana Paula Valadão Bessa.
19h43 – Meu coração está muito apertado. O que será que está ocorrendo em meu organismo? Que mistério é esse que está confundindo os médicos? Em silêncio, uma prece. Pedi também pelo Teozinho. Preciso vê-lo. Mas as regras daqui não permitem trazer crianças menores de 12 anos. O que fazer??? Até quando ficarei aqui???
20h04 – A porta se abriu uma vez. Meu coração nem saltitou de esperanças, pois já não espero mais a minha “alta”. Era simplesmente o enfermeiro trazendo um novo buscopan. André e eu o abordamos quanto a possibilidade de autorizarem a visita do Tetéo. Ele disse que a única pessoa que pode fazê-lo é a enfermeira do próprio plantão, ou seja, terei que conversar com a enfermeira que assumirá o plantão, amanhã, às 07h. Me enchi de esperanças.
20h13 – Liguei para a Helen e a interei de tudo o que está ocorrendo. Conversamos um pouco e ela me deu aquela força! Na TV VIVA está passando SAI DE BAIXO.
20h28 – Liguei outra vez para Michelle. Me lembrei de avisá-la que amanhã a mamãe estará de plantão no Hospital Julia Kubitscheck. Precisarei dela dando assitência ao Teozinho na ausência da mamãe. Sei que ele está sendo muito bem cuidado pela Rafaela. Na verdade, a Rafa, a nova baby sitter do Tetéo, está direto com ele desde que me internei, quer seja na casa da Michelle, quer seja na casa da mamãe, ela está sempre presente, cuidando dele com aquele carinho todo especial.
20h44 – Mamãe acabou de ligar. Dei as notícias não muito boas para ela. Em troca, ela me deu ótimas notícias do Teozinho. Contou várias coisas do meu rapazinho. Dentre elas, que hoje ele deu dois passinhos. Tá quase andando! Gostaria muito de presenciar este momento!!!
20h51 – Agora foi o papai quem ligou. Achou que eu já estava em casa. Tive que dar a notícia de que não tive alta e, mesmo com ele tentando disfarçar e aparentar tranqüilidade, foi perceptível a tensão na voz dele. É interessante como o telefone não pára. Acho que isso tem ocupado tanto do meu tempo, que tem feito com que passe mais rápido! Rsrs...
20h57 – Acabei de falar com Rafa Gui. Liguei para lhe pedir o modem móvel emprestado para amanhã e ele emprestou de bom coração. Amanhã me conectarei com o mundo virtual outra vez! Meus queridos poderão acompanhar um pouquinho mais dessa minha temporada aqui, através das minhas postagens. Que bom que está tudo registradinho!
21h43 – Meu amor está louco por um banho, mas só trazem toalha para o paciente e, após meu banho, já recolheram a toalha. Ele estava de saída para comer algo quando pisou no corredor e voltou, fechou a porta, me olhou com uma cara sapeca e disse que a rouparia é bem em frente ao nosso apartamento e estava cheia de toalhas limpas dando bobeira. Claro que incentivei. Não é furto. É só um pequeno empréstimo! A escondeu no nosso armário para seu banho na volta e saiu para jantar. Rsrs...
22h03 – Amorzinho já voltou. Veio abastecido de guloseimas. Abriu a mesinha, preparou seu lanchinho e fez piquenique.
23h – Mamãe ligou preocupada com alguns detalhes sobre Teozinho. Conversamos e ficou tudo esclarecido. André deitado vendo TV e apagou.
Na madrugada: Acordei com o barulho da TV e a desliguei. A mocinha dos eternos remédios entrou: um comprimido e um copo de água. Tomei e adormeci.
Domingo no hospital, 23/01/2010 – Coração apertado.

Depois das quatro da manhã, foi uma mexida só. Ora André levantava, ora eu... Não dormi bem! Talvez pelo corpo já cansado de ficar deitado, talvez pela falta do banho noturno, talvez pela longa “dormida” na tarde de ontem, talvez pelo coração apertado de saudade do meu neném...

05h38 – Levantei decidida a tomar um banho. Estava muito incomodada e depois... havia uma toalha limpa no interior do armário à minha espera! Afinal, meu gatinho dormiu antes de utilizá-la. Ah... Que banho!!!

06h10 – André levantou também. Fez xixi. Escovou os dentes. Juntou as coisas, trocou as baterias dos celulares, me beijou e, finalmente, saiu rumo a Betim. Conduzirá o encontro FDA, caso apareça alguém! O invejo. Em breve ele estará com o Teófilo! (...).

07h03 - André ligou. Já está em casa. Queria saber que coisas preciso, pois pretende não se estender no FDA e voltar rápido para cá. Pedi calcinha e material de manicure.

07h54 – Apertei a campanhia da emergência. A enfermeira veio e lhe contei que estava voltando a ter dor. Ela pediu que eu aguardasse um pouco e saiu.

08h02 – Chegou o meu abundante café. Contei que minha dieta havia sido suspensa outra vez. Ela lamentou e disse:
- então vou deixar apenas a parte do seu acompanhante.
Levou embora um pacotinho de biscoitos, uma manteiguinha, uma fruta, um pãozinho doce e um de sal. Confirmamos nossa suspeita: era prá dois! E eu... me fartando na porção dupla!

08h19 – A enfermeira chegou para me medicar. (Ufa! A dor voltando e eu já em pânico). Me deu o comprimido de buscopan e o copo de água. Aferiu a minha pressão: 10 por 6. Fez a pergunta que todos os enfermeiros fazem:
- sua pressão é baixinha assim mesmo?
- sim. Respondo sempre.
Temperatura: 36,2.
Depois ficamos batendo papo. Ela foi super legal e, desatenta, sequer perguntei seu nome. Falei da minha ansiedade por conseguir a autorização para trazer o Tetéo aqui. Ela disse que se empenhará por isso junto à supervisora. Neste momento, quem passou em frente a porta aberta do quarto foi o enfermeiro que me acompanhou e me levou para a cirurgia na sexta-feira e levou e buscou nos ultrassons. Entrou e se juntou a nós duas e o papo prosseguiu. Contei detalhes dessa minha história. Ele contou da dele (fez cirurgia de garganta em Novembro. Deu reação alérgica e ficou afastado desde então, só retornando agora. Ela, dando palpites. Disse que ele teve quase uma licença-maternidade! Rsrs.). Bem, encerrado o papo, se foram e voltei ao meu relato. São 08h37.

08h39 – O retorno dela foi rápido. Me encarou com olhar de compaixão. A supervisora do plantão, Ludmila, não autorizou a vinda do Téo. Disse que são normas. Tive que disfarçar minha vontade de chorar. Em vão. Ela, Adriana (agora sei seu nome), também é mãe de um menino de um ano e sete meses, Bernardo, e entendeu bem o que estou sentindo. Mostrei fotos do meu filho, li trechos desse relato, onde me refiro a expectativa pela autorização da vinda do Téo. Ela não me deixou perder as esperanças. Disse para eu tentar outra vez, quem sabe pessoalmente, junto à enfermeira Ludmila. Um texto bíblico me veio à mente: “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei (ou da Ludmila) nas mãos do Senhor; Este, conforme o Seu querer, o inclina”. Mudei o destino da minha petição:
“ - Senhor, meu coração está angustiado de saudade. Autorize a entrada do Teófilo aqui. Por favor. Quero muito vê-lo um pouquinho e que ele me veja também. Amém”.

10h18 – Acabo de desligar o telefone. Recebi ligação da mamãe. Está num plantão apertadíssimo no Julia Kubitscheck. Me deu notícias do Téo. Disse que o Dani, meu irmão, já pesquisou tudo sobre a “mola hidatiforme” e meus sintomas estão batendo com tal diagnóstico. Mamãe falou que meus irmãos estão superpreocupados comigo. Eu imagino... Aqueles dois lá, sempre foram muito fofos comigo. No momento em que eu recebi a ligação da mamãe, estava com uma enfermeira aqui comentando que a tal Ludmila, a supervisora do plantão, virá conversar comigo sobre essa questão da impossibilidade da visita do Teófilo. Quem sabe será a minha oportunidade com ela, para que ceda? “Como ribeiros de águas assim é o coração da Ludmila nas mãos do Senhor...”. Compartilhei isso com a mamãe e ela disse que estará intercedendo. Vamos aguardar o desfecho.

10h56 – André ligou. Primeiro no telefone fixo daqui do quarto do hospital. Aí se lembrou que falávamos de graça e desligou para ligar no celular. No meio do papo a ligação do celular caiu e, irritado, não quis tentar de novo. Retornou no fixo mesmo. Estava no Supermercado Apoio. Quando saiu do FDA estavam lá a Valéria, o Fernando, o Edson e o filho do Edson, tomando café, chá de alfavaca e aguardando pelo retorno dele. André foi apenas comprar algum item para doação dos sobreviventes à tragédia das chuvas na Região Serrana. Sugeri sabonetes. A Cruz Vermelha disse que estão precisando. Comprou cerca de 50 sabonetes para juntar nas doações do pessoal e mandar para a IBNC. Não é o que havíamos pensado. Nossos planos eram de um envolvimento muito maior, uma campanha muito maior, uma ajuda muito maior, mas... enfim, não imaginávamos o que aconteceria comigo! Falamos do Tetéo. Da possibilidade de vinda dele com o próprio André, caso a visita seja autorizada. Confesso que estou um pouco tensa, em função da falta do Teófilo e da ansiedade pela resposta final. Acabei perdendo a paciência com as dificuldades impostas por ele e falando com um tom de voz meio ríspido com o André. Ele se irritou e desligou “emburrado”.

11h01 – Estava ainda fazendo o registro anterior, da ligação do André, quando o celular tocou. Chamada diretamente de Janaúba – Norte de Minas. Era meu irmão Eliseu, preocupado e surpreso com a minha permanência no hospital. É a terceira pessoa que me diz que André teria divulgado (movido por desejo e conclusões próprias) que eu estaria de alta até a hora do almoço de ontem. Pobrecito do meu marido. Acho que ele também se frustrou, pois acreditou piamente nisso! Conversamos muito. Contei ao Geu toda a história da (agora famosa) “mola hidatiforme”. Ele pegou o nome direitinho. Tenho prá mim que, tal qual meu irmão Daniel, também “fuçará” a internet à busca de maiores informações. E VIVA A WEB democratizando o conhecimento! Falando em conhecimento, ele me deu a excelente notícia de que a Daniela, minha sobrinha, passou em primeiríssimo lugar para o curso de Direito na conceituada UNIMONTES, no vestibular seriado que fez (PAES) e que, inclusive, a pontuação por ela obtida a aprovaria até mesmo no curso de medicina – o mais concorrido do Brasil. Claro que fiquei orgulhosíssima!!! Por falar em orgulho, conhecimento e medicina, conversamos ainda sobre a outra excelente notícia que mamãe me deu: a possibilidade de Debrinha e Filipe conseguirem transferência para uma faculdade de medicina também em Montes Claros. Estão concorrendo às duas únicas vagas e estou torcendo e orando pelos meus primos lindos!!! Que Deus os abençoe! No mais, mandei beijos para Marta, Gut e Gabi (que está lá com eles). Nos falamos durante 12 minutos e seis segundos, graças ao infinity-pré da TIM. Rsrs...­­­­­­­­­­­­

11h39 – Não resisti. Liguei na casa da mamãe para tentar falar com Tetéo. Queria tanto ouvir a vozinha dele... Mas ninguém atendeu. Onde andará a Rafaela com o Teófilo?

11h50 – Acabo de chegar lá de fora. Fui na recepção da enfermaria deste andar e pedi para falar com a supervisora Ludmila. Estão tentando localizar em que setor ela estará e me chamarão. Está quase na hora do André voltar. Agora é tudo ou... nada?

11h58 – A porta se abriu e meu coração disparou: hora da decisão? A expectativa não é mais de alta hospitalar, mas da visita de um baixinho, loirinho, sapequinha e gostosinho chamado Teófilo. Mas era apenas o meu almoço: arroz, feijão, macarrão (penne), salada de beterraba cozida, frango assado, suco de tangerina e laranja picada. Não sei se estava com mais fome ou se o tempero estava melhor. O fato é comi tudo. Não deixei um grãozinho sequer.

12h15 – O telefone tocou: Estella, minha sogra. Queria saber como passei a noite, como estava agora e se tinha notícias do Téo e de possibilidades de alta. Telefonema rápido. Acaba de chegar da Igreja e precisa preparar almoço para sua família. Na TV, Pr. Márcio termina a pregação no culto ao vivo e estão cantando: “... as tuas feridas sararei... Vem filho amado, vem, como estás...”

12h26 – Tentei de novo no telefone da casa da mamãe: “o número que você ligou não atende no momento e não possui caixa postal. Por favor, tente mais tarde”, foi o que me disse a voz mecânica, sem ao menos me dar a menor pista que fosse, de onde estará o meu Tetéo... André saberá?

12h30 – O celular do André chama e ninguém atende: “sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens. Após o sinal, deixe o seu recado”. Puxa vida... Talvez a Michelle. Tentarei.

12h28 - O celular da Michelle também não atende. Complô? Ou estarão organizando uma surpresa e me trazendo o Téo, mesmo sem a resposta, correndo o risco? Ôpa... celular tocando: Michelle! Ah... acaba de entrar na casa mamãe, brava com a Rafaela, que também não a ouviu chamando há mais de meia hora no portão. Disse que lá de fora ouvia a vozinha do Téo cantando junto com a Rafa e que o som estava alto. Não tem notícias do André. Falei com o Teozinho. Ouvi seus grunhidinhos. Que delícia... meus olhos encheram de lágrimas, mas no auge, perdi o sinal e a ligação caiu. A Mi chegou a me contar, antes de passar para o Téo, que ele quase não quis almoçar, então a Rafa estava dando banana amassadinha pra ele. Que saudade doída do meu “firoquinho”!

12h42 – Telefone fixo daqui tocando! Ué... Parou? Chamou só uma vez. Engano? Desistência? Defeito? Vai saber...

12h49 – O celular tocou. Parou. Não reconheci o número... O fixo tocou. Era a mesma pessoa. Atendi. Meu cunhado Marcos. Conversou um pouco. Deu aquela palavra animadora. Mandei beijos prá Julia e prá Isabelinha.

13h06 – TRRIMM: mamãe. Nos falamos rápido. Queria notícias sobre a autorização da supervisora quanto a visita do Téo. Respondi que até agora, nada!

13h25 – Cadê o meu amor?  Não liga, não atende aos telefonemas, não retorna... já era pra ter chegado. Nem com o Téo ele está, pois o localizei com a tia Mi. Recebi telefonemas da mãe dele, do irmão... mas ninguém comentou nada a seu respeito, a não ser que não atende ao celular (ainda bem que não ignora apenas as minhas chamadas. Deve estar no silencioso! Rsrs...). Confesso que estou preocupada com a falta de contato do André. Tudo bem que desligou meio chateado comigo, mas isso nunca dura mais do que 15 minutos... Onde estará???


13h31 – Mal acabei de escrever a postagem acima, o telefone tocou: o próprio! Acreditem se quiser, mas Michelle tinha razão. Empolgou-se com o encontro no Fora do Arraial e estava, naquele momento, encerrando a reunião. Como eu previa, seu celular estava no silencioso e ele tinha acabado de visualizar as chamadas. Comecei a lhe relatar a minha expectativa e ansiedade e a porta se abriu. Nada mais nada menos do que a tão esperada Ludmila – supervisora do plantão. Expliquei ao André que teria que cortar a ligação, mas que retornaria em minutos e assim foi. Após explicar-me os motivos que balizam a impossibilidade da visita do Teófilo, veio a decisão: AUTORIZARIA VISITA RÁPIDA (cerca de 10 minutos) E QUE VIESSE O QUANTO ANTES, DESDE QUE EU ME COMPROMETESSE A NÃO AMAMENTÁ-LO AQUI NO HOSPITAL! Que felicidade!!! Agradeci à Ludmila. Agradeci a Deus. Àquele que, conforme o Seu querer, inclina os corações dos homens!!! Liguei rapidamente de volta ao André que estava fechando o FDA. Irritado com a chieira da ligação no celular, desligou e me retornou no fixo. Eu estava explodindo de alegria e queria compartilhar com ele tão precioso momento! Mas ele não estava na mesma sintonia. Uma manhã fora talvez tenha sido suficiente para não compreender a dimensão da minha expectativa por ver o Téo, por poucos minutos que fosse, e reclamou ter que vir às pressas, já que tinha planos para resolver algumas coisas, almoçar tranqüilo, etc. Eu disse que não o entendia, já que hoje cedo, quando chegou em casa, por volta de sete da manhã, me ligou separando tudo o que teria que trazer, dizendo que sairia de casa pronto para voltar para o hospital tão logo encerrasse a reunião. Sugeri que pedisse Michelle para vir na frente trazendo o Téo, mas ele já estava irritado. Tornou-se ríspido e, eu ousaria dizer, agressivo até, enquanto buscava maiores informações dessa vinda do Téo, que envolveria ainda a Michelle (para levá-lo de volta) e a Rafaela (já que sua família mudou-se de cidade e ela optou por permanecer na casa da minha mãe, disponível para cuidar do Teozinho nas 24 horas do dia, até que eu tenha alta e retorne para casa). Fiquei triste com a reação do André. Mas tomei uma decisão: ao invés de valorizar isso, vou tomar um bom banho, melhorar a carinha para receber meu filhote e ficar cheirosinha para receber meu marido.

14h05 – A moça da limpeza veio buscar a bandeja do almoço. O telefone tocou. Atendi e caiu. Vou esperar um minuto antes do banho para ver se tocará de novo. Será André? Liguei. Não era. Aproveitou para me contar que não conseguiu falar com Rafael Guilherme. Que Michelle estava com Rafaela e Teófilo na casa da Elzi - aniversário da Lana (que é amanhã, na verdade). Disse ainda que Rafaela lhe havia dito que as fraldas do Téo acabaram. Que ele estava sem sandalinhas e que o shampoo dele também se acabou. Michelle contou que Rafaela lavou o cabelinho dele com shampoo normal. Quase morri do coração! Preciso explicar a ela que, na falta do shampoo, use exclusivamente o sabonetinho dele. Mas tudo bem. Dei as orientações para meu amor estressado sobre tudo aquilo que ele precisaria providenciar.

14h18 - A enfermeira entrou. Pensei que já era o Téo! Veio fazer controle de pressão (10 por 6) e temperatura (36,8).

14h21 - O enfermeiro também veio. Será o Téo? Hora do ultrassom. Sem tempo para o planejado banho. Lá fui eu ao meu passeio em cadeira de rodas!

15h25 – Voltei do Ultrassom. Ninguém tinha chegado. Corre-corre para o banho e “aprontamento”. Não demora estarei recebendo Tetéo e Dedé! Hehehe...

15h45 Telefone Fixo. Michelle chegou. Meu Deus... Meu coração disparou. Que desespero para ver aquela criaturinha... Estão lá embaixo na padaria.
Opa... Telefone celular tocando. Desligo o fixo para atender o celular. André. Também chegou. Está entrando na Padaria. Pronto!!! Os viu. Está lá com eles. Virão todos juntos. Nem toquei no meu café da tarde. Estou ansiosa. De cabelos lavados, brilhos nos lábios e toda perfumada, esperando o homenzão e o homenzinho da minha vida!

15h49 – Quatro minutos se passaram... E essa porta que não se abre nunca mais!!!

15h55 – A porta finalmente se abriu! (...) (?) Era a moça querendo recolher a bandeja do café que ainda nem tomei... Vai esperar um pouco mais. Cadê eles? Já liguei para o André e estavam na portaria. O que estará dando errado???

15h58 - Liguei de novo:
- Amor, o que está acontecendo?
Quando ia responder, perdi o sinal e a ligação caiu em seguida. Teste de paciência???

16h01 – (Três minutos que pareceram uma eternidade!!!) Até que a porta foi empurrada pelo André com o Téo no colo. A carinha dele quando me viu foi a melhor do mundo!!! Mas os 50 minutos que ele passou aqui comigo foram de muita adrenalina. Queria pegar tudo. Apertar os mil botões, ficar solto pelo quarto, mexer no telefone, controle, etc. A ordem da supervisão de que ele não tocasse em absolutamente nada tinha sido clara e categórica. Resultado: muita irritação da parte dele e muito jogo de cintura da nossa parte para controlá-lo por todo esse período. Mas meu coração de mãe ficou mais tranqüilo. O vi. O beijei. O abracei. Fui vista por ele. Beijada por ele. Abraçada por ele. Nada poderia ser mais mágico do que ter meu “firoquinho” nos braços, mesmo gritando, brigando, bagunçando, chorando e esbanjando vigor e saúde! Foi um tempo muito precioso para mim. O que complicou um pouco foi que menos de dez minutos após a chegada do Téo, chegou também a médica do plantão, Dra. Helena, com meu ultrassom nas mãos para analisar o meu caso. Téo gritava. Chorava. Tiveram que sair com ele para a médica conseguir me avaliar. Uma verdadeira incógnita! A existência da mola, só a biópsia vai revelar e isso dura dez dias! A nova imagem em que consta uma “massa” no ovário esquerdo, sugere gravidez tubária e, confirmado este diagnóstico, serei urgentemente encaminhada para a cirurgia. Terão que abrir e retirá-la antes que ela rompa a trompa, o que provocaria dor inimaginável com risco de choque e, até mesmo, o extremo de chegar a ter que receber sangue e etc. Enfim, me examinou, despejou todas essas informações e saiu para discutir o que fazer... se decidia pela cirurgia ou não, juntamente com seu colega de equipe, Dr. Pedro. Voltei a brincar com Teófilo!

16h48 – André ligando para o Rafa Gui, que nos enviou uma mensagem.

16h50 – Se foram... Meu baixinho, a Mi e a Rafaela! Meu coração está muito mais tranqüila agora que o vi tão bem!

17h01 – Mamãe ligou. Conversamos bastante. Falamos sobre a visita do Téo, da Mi e da Rafa,  sobre o novo ultrassom e a reavaliação médica. A despeito de todos os riscos que isso implica, mamãe ainda prefere a gravidez tubária, ainda que incorra na perda da trompa comprometida, do que no diagnóstico de “mola hidatiforme”. É... a tal mola virou o bicho-papão da vez!

17h12 – André, ainda levemente emburradinho, foi abrindo a mochila e me entregando o que trouxe de casa para mim: sudoku, material de manicure, etc. Provas de que pensou em mim com carinho... mas não dá o braço a torcer! E pelo jeito, acho que ainda tem mais surpresas para mim.

17h18 – Eu sabiaaaaaaa!!! Meu amor é muuuuito querido. Fez pesquisas sobre a “mola hidatiforme”. Leu muito a respeito. Melhor ainda, baixou arquivos e trouxe para mim. Ele não é demais?

17h43 – Assim??? Do nada?! Não consigo compreender. Por que? Onde? Como??? Como o mais cuidadoso de todos os maridos, o mais detalhista, o mais presente, o mais companheiro, consegue repentinamente agir de maneira tão irônica, fria e... agressiva até?  Já encaramos acaloradas discussões. Mas agora? É injusto, porque desigual. Não consigo entender esse comportamento ofensivo sem motivos precisos e num momento em que me encontro tão fragilizada...

17h50 – Me tranquei no banheiro e chorei. Chorei muito. Saí do banheiro. Lavei o rosto. Enxuguei as lágrimas. Me deitei na cama e voltei a chorar. André inerte. Como quem não está presente; ou melhor, presente, mas inatingível. Não resisti. Liguei para minha mãe sem tocar no assunto. Na falta de colo de marido, a gente busca desesperadamente colo de mãe. Queria colo. Queria afago. Queria carinho. Queria saúde. Queria voltar no tempo...

18h03 – O telefone tocou. Uma mocinha do bloco cirúrgico disse que o Dr. Pedro queria saber a que horas comi pela última vez. Me remeti ao meu diário e a informei com precisão. Ela disse apenas:
- você anota tudo num diário? Que gracinha!!!

18h06 – Apareceram com meu jantar. André, já melhorzinho, foi logo avisando que minha dieta está suspensa. Vai que me sinto tentada... rsrs.

18h25 – Minha cabeça está explodindo de dor e a musculatura que desce da nuca se contraiu completamente desde a discussão com o André. Mal consigo virar o rosto. André mudou de canal. Colocou na Rede Super e está acontecendo o louvor do Culto de Lagoinha ao vivo. Está sendo cantado, por um moreninho que não conheço: “Tu es o Deus da minha salvação, es o meu dono minha paixão, minha canção e o meu louvor...” Mas já mudou de canal.

19h59 – -Boa noite menina! – Falou o senhor que adentrou repentinamente o quarto enquanto eu rapidamente descia a perna e juntava esmaltes, algodões e acetona espalhados sobre a mesinha de refeições. Pintava as unhas dos pés com o material que meu marido trouxe prá mim.
- Continua de jejum que nós vamos te operar. Você está em jejum?
- Estou. A voz custando a sair e eu tentando demonstrar tranqüilidade e naturalidade.
-Hoje ainda? Perguntei.
- Hoje. Se não der no nosso plantão, fica para o próximo plantão. Mas hoje ainda. Você está com suspeita de gravidez tubária e nós vamos ter que te operar. Continua de jejum, viu? Terminou de falar já saindo. Depois eu soube que aquele era o tal Dr. Pedro.
Meu coração disparado. O olhar arregalado encarando o André.
-Tá com medo gatinha? Perguntou com carinho e me abraçou.
Um choro sufocado ameaçou explodir em soluços, mas foi contido.
Estarei com medo? Pavor? Não sei. O coração está disparado, mas sequer sei definir o que estou sentindo... Voltei a fazer as minhas unhas!

20h11 – Meu amor estava rindo do meu apavoramento. Me abraçou forte.

20h32 – O enfermeiro Carlos veio aferir pressão (11 por 6) e temperatura (36,9).

20h55 – Telefone tocando:
- É da casa da Dirce?
- Não minha filha, aqui é hospital. Respondeu André. ENGANO.

20h57 – Telefone soando. Será engano de novo? Não! Era a Marta e o meu irmão Eliseu. Conversaram bastante com o André.

21h08 – Passei mensagem para amigos chegados: “Médicos decidiram me operar ainda hoje para retirar uma massa que surgiu. Peçam a Deus por mim”.

21h35 – O telefone não pára. André atendeu Pr. Reginaldo e Adriana (sua irmã). Nesse intervalo eu conversava com a mamãe, que acaba de chegar. Dani, meu irmão, ligou no celular da mamãe, que há pouco retornou do posto da enfermagem daqui do 5º andar, na tentativa de falar com os médicos que me atenderão. O telefone tornou a tocar. Pr. Reginaldo se prontificando a qualquer coisa que precisarmos. Pediu André para ligar assim que a cirurgia acabar.

22h09 – Dois telefones tocando ao mesmo tempo: Pr. Gilson no celular do André e Tia Marlene no celular da mamãe.

22h23 – Estella ligando no fixo. Conversando com André.

22h40 – Raquel Paulino ligando. Meu amor não agüenta mais contar a mesma história.

23h08 – Juju ligando. Lá se vai meu amor outra vez contar a história!

23h32 – Vieram me buscar. Hora da cirurgia. Um frio na barriga. Não queria ter que enfrentar essa cirurgia. Descemos para o bloco cirúrgico. A carinha de cansaço da minha mãe dava dó...

Segunda-feira pós-cirúrgica? 24/01/11

Tô sem ânimo de relatar os últimos acontecimentos.
Hoje acordei sem saco para escrever tim-tim por tim-tim.
Estou meio “prá-baixo”. Cansada de estar aqui...
A manhã não é pós-cirurgica, porque apesar de toda a convicção da Dra. Helena e do Dr. Pedro de que eu seria operada na data de ontem, não fui.
Aliviada?
Não muito. Sei lá! Talvez estaria se as circunstâncias fossem outras...
Mas ser preparada na mesa de cirurgia, com toda a parafernália, e na hora H o ultrassom que estava passando pelos médicos, de mão em mão, desaparecer misteriosamente???
Presenciar o estresse dos médicos à procura do ultrassom que estava ALI há poucos minutos, o cansaço da minha mãe, depois de um plantão pesado, se desdobrando para estar presente, e a idéia de que suspenderam temporariamente, mas a qualquer hora eu poderia voltar para o bloco cirúrgico, não foi “aliviante”.  Dra. Valéria e Dr. Sérgio prescreveram hemograma, soro, manutenção do jejum, taxa de hemoglobina, Beta HCG... Enfim, subi de volta para o quarto e tive uma madrugada de horror, sendo picada toda hora! A médica veio umas três vezes no quarto conversar comigo.
Localizaram o ultrassom lá pelas tantas, constataram a presença da tal massa – possível gravidez ectópica e, finalmente, a cirurgia ficou confirmada para a manhã de hoje. A hemoglobina baixou. O B.HCG foi positivo mas não deu para ser quantitativo por estar durante a noite. Foi apenas qualitativo. A tensão não me permitia dormir.
Pela manhã... Pobre mamãe. Nos falamos ao telefone e ela estava detonada de cansaço. Tinha voltado de madrugada e sozinha para Betim.
Também ligaram no período da manhã: Michelle, Mardeline, Daniela, Sr. André e Estella, Pr. Reginaldo, Raquel, Lana (me contou seu sonho), Karine e Juju.
Bem, mas vamos voltar à cirurgia marcada para a manhã de hoje.
Por volta das oito da manhã vieram me buscar no quarto, com ordens de me levarem para o bloco cirúrgico. Dessa vez minha mãe não estaria de forma alguma. Mesmo arrebentada de cansaço pela noite de ontem, ela teria que se superar para atender os pacientes agendados pela UBS Alcides Brás, em Betim, já que os demais médicos se encontram de férias e a agenda dela está ficando lotada!
Não posso esconder meu medo e estresse para enfrentar essa “enrolada” cirurgia.
Despedi do meu amor com um beijo e um abraço apertado e adentrei o bloco, na cadeira empurrada pelo enfermeiro Carlos.
Prepararam tudo de novo: sapatinhos e touquinha de TNT, “trenheira” ligada em mim... tudo pronto! Veio o médico, Dr. Wagner, falou da cirurgia, mas olhou, olhou, olhou o ultrassom... saiu, entrou e disse que não a faria. Não estava certo de que fosse gravidez ectópica. Mandou que subissem comigo de volta para o quarto e liberassem a dieta (êba!!!), que depois passaria por lá para conversar comigo direitinho.
Agora, sim! Posso revelar que subi muuuito aliviada. Mesmo sabendo que não é decisão final. Pode ter reversão. Mas... que bom. Saí na cadeira de rodas com o rosto mais sorridente do mundo, para me encontrar com meu amor do outro lado do corredor, e ele, agora já escolado, sabia que por algum motivo a cirurgia tivera outra vez sido cancelada! Só perguntou: - de novo? Sorri e expliquei tudo. No quarto nos despedimos e ele foi à Betim para retomar o seu trabalho, deixando organizando a escala de minhas acompanhantes de quarto durante o dia: Juju pela manhã e Dani pela tarde. Tomei café e atendi aos telefonemas já citados.

11h48 – Intervalo do filme. Levantei para fazer xixi pela terceira vez em pouco mais de uma hora. Parece que o soro está acabando. Me deu uma dor estranha na barriga quando me abaixei. Mas não é na parte mais baixa da barriga. É do lado esquerdo, um pouco mais no alto. Pode ser intestinal. Estou preocupada: meu intestino sempre foi reguladinho e nunca foi de falhar um só dia, mas desde quarta passada que... nada! Pelo sim pelo não vou cuidar e evitar o menor esforço. Vai que não é isso e o trem rompe...

11h50 – Toquei a campainha para a enfermeira olhar o meu soro. Parece que acabou e a mangueira tá enchendo de sangue. Dói. Ela veio e retirou o frasco, mas manteve a mangueirinha, para o caso de necessitar colocar medicação. Apenas salinizou. Acho que é essa a palavra.

11h55 – Meu almoço chegou. Arroz, feijão batidinho, frango desfiado com molho e milho, batata na manteiga, jiló, suco de tangerina e melancia. Tentei comer de tudo, mas o jiló não desceu. Estranho como custei chegar ao final. Das duas uma: ou ainda estou cheia do pouco café que tomei, mais tarde que o normal, ou o soro está me tirando um pouco do apetite.

12h13 – Minha cabeça está doendo.

13h06 – Chorando emocionada (choro sempre) com o episódio que passou em retrato falado interpretado pela Denise Fraga e pelo Angelo Antônio retratando a história de Regina e Marcos (Cafu). É o Cafu mesmo! O próprio da seleção brasileira! LINDA LINDA LINDA A HISTÓRIA DO CASAL.

13h19 – Também estou chorando com o final do filme “Um homem de Família” com Nicolas Cage (Jack Campbell) e Téa Leoni (Kate). A Ju não pôde vir agora de manhã e estou assistindo canais alternados. Esse filme já o assisti um par de vezes, mas sou uma idiota romântica do tipo que adora finais felizes, ainda que brega para muitos. E pior: choro em todos eles!!! Cada vez que assisto algo assim, termino e vou logo tentando falar com meu Amor, mas ele não está atendendo aquele celular bichado e que vive no silencioso. Mas fico me lembrando do quanto o amo. Mesmo ele sendo um chato de galocha e eu uma assim... meio insuportável às vezes. A gente briga quando ele fica aqui, mas morro de saudade, quando ele fica lá. Vai entender...

13h26 – A enfermeira veio medir temperatura (35,9) e pressão (10,6). Ficamos batendo papo um tempão. Muito legal!!!

14h14 – Ué... a Dani disse que chegaria as 14h. (ou sairia de Betim às 14h?) Estará chegando ou saindo de Betim? A Juju ligou e disse que almoçaria e viria em seguida. Cadê as duas???

14h16 – Fui fazer xixi e saiu sangue... Será relevante???

14h19 – Sede e medo de beber água e isso me prejudicar, muito embora ninguém me avisou, até o momento, da necessidade de novo jejum. Não resisti e pus um pouquinho de água gelada no fundo do copo e apenas molhei os lábios. Já deu uma sensação de alívio!

14h37 – Chegou meu café da tarde. Que bonitinho!!! Dessa vez mandaram duas xícaras. Pena que nesse momento estou sem acompanhante. Mas a dúvida persiste. Não suspenderam a minha dieta, mas começo a sentir leve dor e apresento esse pequeno sangramento. E se precisar cirurgia de urgência ou outro procedimento que implique em jejum? Hmm... Pedi a moça que trouxe o café para me chamar a enfermeira.

14h40 – A enfermeira chegou. Compartilhei minhas dúvidas: ataco essa bandeja de café novinho, leite morninho, pães apetitosos e biscoitos amanteigados Bauducco, que me encaram, ou ignoro-os pelo beneplácito da dúvida de necessidade futura? Ela preferiu perguntar pro médico, já que ainda não apareceu ordem de nova suspensão da dieta.

15h – Juju acaba de entrar. Vamos conversar! Ficou meia hora para atravessar a fila lá embaixo e entrar. Esse é o horário de visita da enfermaria...

15h06 – Daniela ligou. Tá quase chegando.

15h22 – Dani chegou. Também ficou agarrada na fila.

15h30 – Angelita ligou. Um amor!!!

16h15 – Estava num papo retado com a Dani e a Ju contando a história da minha internação quando André ligou. Preocupado. Querendo notícias e... prá variar, irritado (como sempre!) rsrs...

Pouco depois, recebi a visita do médico. Ele veio e me explicou direitinho o porque de ter suspendido, até então, a cirurgia. Disse que as evidencias de que aquilo que aumentou o meu útero esquerdo seja uma gravidez na trompa não são tão precisas para partir, de cara, para uma intervenção cirúrgica. Completou que pode ser que seja sim, uma gravidez (embora seja raro uma pessoa ter uma gravidez tópica (a que perdi e curetamos os restos – no útero) e, quase que simultaneamente, outra gravidez ectópica (se estiver mesmo na trompa). Neste caso, é cirurgia mesmo! Mas que também pode ser que seja ainda, a tal mola.
- Mas doutor, sendo gravidez ou mola, não terá que ser retirado de lá do mesmo jeito? Perguntei.
- Não. Respondeu categoricamente. - A intervenção cirúrgica cabível já foi feita: a curetagem. Se tem outra manifestação de mola hidatiforme, não cabe mais nenhum tipo de cirurgia; nem mesmo outra curetagem. Pois opera para tirá-la daqui e ela aparece ali; opera para tirá-la de lá e ela aparece acolá. Pois neste caso estará em atividade. E unicamente o tratamento a extirpará de seu organismo. Te operar, neste caso, seria como “enxugar o gelo”; por isso optei por esperar um pouco mais para não te operar em vão. Precisamos muito do resultado do anátomo patológico. Concluiu.
- Mas doutor, dizem que vai demorar de 10 a 15 dias. E enquanto isso??? Me desesperei.
- Vou tentar agilizar isso junto ao laboratório. Mas enquanto isso, vamos te acompanhando com outros exames. Declarou.
Foi aí que a Ju pediu a palavra e questionou:
- Mas o senhor disse que a possibilidade de gravidez tubária não está descartada, certo? E a outra médica havia dito que teria que ser feita a cirurgia antes que ela rompesse, porque quando há a ruptura da trompa, pode acarretar numa hemorragia rápida e levar ao choque, podendo até ser fatal. E se for gravidez e acontecer a ruptura da trompa? Não é muito arriscado?
- Por isso que ela não terá alta. Uma coisa é romper aqui dentro do hospital e ao menor sinal de dor forte com sangramento ela ser imediatamente encaminhada para a cirurgia; outra coisa é ela ter alta e correr esse risco lá fora. Aí, se rompe, até que chega no hospital para ser atendida, certamente correrá até mesmo risco de vida! Poderíamos operá-la já; mas a intervenção cirúrgica, neste caso, é um procedimento muito invasivo. A anestesia é a peridural e o corte na barriga é tipo o de uma cesária. Inclusive com aquele pós-cirúrgico que quem fez cesariana, conhece bem. Imagina se feito tudo isso, descobre-se que a cirurgia era desnecessária?
Não hesitei em perguntar:
-  Mas a única forma de descobrir isso é esperando o anátomo patológico? E enquanto isso?
- Enquanto isso, acompanharemos a evolução através do Beta HCG e Ultrassom que continuaremos realizando de forma seriada em você, que neste momento continuará no hospital sem previsão de alta.
- E se for constatada que é tudo mola hidatiforme, que tratamento é esse? Arrisquei.
- Bem, deve envolver quimioterapia, associada a um controle rigoroso de betaHCGs e ultrassons, sem nenhuma possibilidade de correr riscos de engravidar durante o tratamento total, que dura um ano.
Eu, Juliana e Daniela Amoglia permanecemos caladas. Ele concluiu. Agradecemos e ele saiu.
Mais telefonemas na tarde de hoje (até as 18h. Depois das 18 não guardei quem ligou. Aqui estava com muitas visitas e o telefone tocou diversas vezes): André, Angela/Reginaldo, Reginaldo de novo, Mamãe, Lana, Estella.
Após as 18h a Dani se foi, mas estavam aqui: Juju, Lucas Sathler, Angela, Pr. Reginaldo e, por último, Fábio – marido da Juju.
Do celular do Pr. Reginaldo falei com o papai. Ele estava com uma voz muuuuito deprê! Eu soube que ele não saiu do quarto hoje. Além do que me aconteceu, imagino que outros problemas se somem para abatê-lo. Mas por minha causa, não quero que ele fique assim. Não precisa. Estou bem!
As 19h30 a Ju e o Fabio se foram e os outros três ficaram até mais de oito da noite, dando um tempo para a chegada do André. Aproveitei que o celular do Pr. Reginaldo fala de graça com papai e liguei uma vez mais para ele. Creio que ele percebeu, pela minha voz, o quanto eu estava bem. Apesar das notícias, permanecia bem. Preferí não dizer ao papai, por enquanto, a possibilidade de ter que me tratar com quimio... acho que isso pode assustá-lo um pouco. Melhor aguardar um diagnóstico mais preciso.
Me lembro de algumas vindas de enfermeiros, outros telefonemas, torpedos e a chegada do meu jantar. Mas não fui anotando na hora e nao me recordo de detalhes. Lembro apenas que o modem do Rafa Gui, trazido pela Dani não funcionou e a Angela pelejava para fazer o do Pr. Regi funcionar no meu notebook. Quando conseguiu, postei "INTERNAÇÃO E NOVIDADES" para comçar a dar notícias e introduzir o assunto.
Entao eles se foram e só lá pelas dez da noite que meu amor chegou.
Já não suportava mais de saudades dele!!!
Hoje foi o primeiro dia de ausência dele desde que me internei. Que bom tê-lo pertinho outra vez!

SEMPRE, AO FINAL DESSA LEITURA, ATUALIZE A SUA PÁGINA. PODE SER QUE TENHA MAIS COISA POSTADA ENQUANTO VOCE LIA (MUITO EMBORA EU DUVIDE QUE QUALQUER PESSOA CHEGUE AO FINAL DESSE TESTAMENTO!)...

3 comentários:

  1. "Há um lugar
    Pra chegar
    Há uma ponte
    Que te levará
    Pro outro lado
    Há um sonho, uma voz
    Dizendo: "os teus sonhos também são meus"
    Vou te levar,te conduzir
    E quando você alcançar
    Saberás que em todo tempo
    Eu estive ao teu lado

    Os teus sonhos são meus
    Teus problemas são meus
    Tua vida também é minha vida
    Eu de ti cuidarei
    Nunca te deixarei
    Os teus sonhos eu realizarei

    Vou te levar,te conduzir
    E quando você alcançar
    Saberás que em todo tempo
    Eu estive ao teu lado"

    Tenha certeza disso .. bjos
    Helen Baesse


    link: http://www.kboing.com.br/chris-duran/1-1068290/

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  2. Estou adorando os links que a Helen me manda com músicas lindas e inspiradoras. Não havia momento melhor para escutá-las...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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